O desafio da ação política independente e pensante

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Eu gostaria de convidar todos vocês a conhecer a União dos Estudantes Independentes (www.ueiunb.blogspot .com) e, caso convirjam com seus princípios, sua forma de ação e sua visão de movimento estudantil, a integrá-la.

A melhor maneira que encontro para expor o que é a UEI é explicando por que eu decidi integrá-la.

Em síntese, é porque:

(I) a UEI é um grupo que se organiza e age de modo democrático, independente, plural, não-dogmático, pensante, crítico, autocrítico e propositivo;

(II) identifico-me plenamente com os objetivos que balizam a atuação da UEI. Num rol não exaustivo:

1. a melhoria concreta das condições de ensino, pesquisa e extensão da UnB;

2. a percepção de que é fundamental que a UnB seja gerida de modo democrático, com diálogo e abertura para a participação, porque essa é a melhor forma de garantir, do ponto de vista da gestão, a melhoria das condições de ensino, pesquisa e extensão da Universidade, e porque práticas de gestão democráticas são educativas em si mesmas;

3. o movimento estudantil deve ser inclusivo, deve incentivar a participação de todos os alunos, porque isso o qualifica, o legitima e o fortalece: torna-o mais próximo das demandas concretas; propicia a construção plural e dialógica que permite a melhor compreensão da realidade complexa; e, por torná-lo mais próximo dos estudantes, por torná-lo efetivamente movimento dos estudantes, torna-o mais forte e impactante;

4. a UEI atua pelo fortalecimento dos Centros Acadêmicos como entidades fundamentais do movimento estudantil, dada a sua proximidade com os estudantes, com problemas concretos, a descentralização que propiciam e a possibilidade que eles abrem para maior participação de todos os estudantes;

5. a Universidade deve orientar a formação e o conhecimento que produz pelo compromisso com a sociedade, a democracia e os direitos humanos;

6. o movimento estudantil precisa conhecer a fundo os problemas da Universidade, promover o debate amplo sobre eles, e atuar de modo crítico e propositivo para solucioná-los. Isso significa que a atuação exige uma sofisticação que requer esforço intelectual e debate constantes. Citando dois exemplos do momento: REUNI e fundações. São dois temas que impactam diretamente toda a comunidade acadêmica, e portanto o movimento estudantil não pode furtar-se a ter opinião e propostas sobre eles. São assuntos altamente complexos: requerem estudo aprofundado, reflexão séria e debate plural para a construção dessas opiniões e propostas. A UEI compromete-se com essa reflexão aprofundada e com esse debate amplo para a formação de seus posicionamentos críticos e propositivos.

Em síntese, a UEI luta pelo cumprimento daquilo que a Constituição Federal de 1988 prescreve como pilares da Universidade: a autonomia, a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, a gestão democrática. Compromete-se com a reflexão e com o permanente debate sobre o nosso modelo de universidade, e propõe-se a estudar e debater qualificadamente os temas para chegar a posições que permitam ao movimento estudantil construir uma UnB melhor e mais bem fundada.

Essa forma de organização e esse tipo de compromisso têm conseqüências muito práticas na forma como a UEI decide agir e naquilo que ela reivindica e propõe, e marcam sua diferença com os demais grupos do movimento estudantil.

Eu não conseguiria participar de qualquer grupo que não tivesse todas essas características, que identifico na UEI muito mais do que em qualquer outro coletivo estudantil da UnB (refiro-me aos outros grupos estudantis que agem na dimensão da UnB como um todo, e não de grupos específicos de qualquer curso).

Não entrarei em detalhes sobre os outros grupos estudantis da UnB – que respeito muito e com os quais tenho (e a UEI coletivamente também) convergências em vários pontos -, mas considero fundamental destacar dois pontos:

– a UEI é realmente um grupo plural e pensante. Que significa isso? A UEI não toma suas posições com base em dogmas ou enviesamentos ideológicos pré-definidos. A UEI tem compromisso com a democracia, mas isso é vago quando se vai para a apreciação pragmática das questões. E essa apreciação ocorre. Como? Pelo incrível exercício do pensamento e do debate.

É muito difícil chegar a uma posição quando não se parte já de uma ideologia que fornece respostas fáceis. Exemplo: a maioria dos CA’s não se posicionou sobre o REUNI, e não se posiciona sobre a maioria dos temas que exigem maior aprofundamento e debate. Normalmente, os únicos que se posicionam são os que são sectários de alguma grande ideologia maior que “fornece” a eles posições sobre temas específicos. Esse não posicionamento não é à toa. Na sociedade contemporânea, com a morte das grandes ideologias políticas – ou, nas palavras do prof. Alexandre Araújo Costa, de uma “meta-utopia geral que organize a política” -, as pessoas deram-se conta do quão difícil é a ação política. A UEI nega-se a transformar seu convicto não-dogmatismo e sua decidida pluralidade em inoperância e imobilismo. O projeto da UEI é chegar a posicionamentos, pela trabalhosa construção plural de posicionamentos a partir da apreciação séria de cada questão.

A faceta pensante (que considero indispensável) da UEI expressa-se também pela sua dimensão autocrítica. O grupo não tem medo de se criticar, inclusive em público; de reconhecer suas limitações e seus erros. Essa é uma virtude que prezo em qualquer movimento e na verdade em qualquer pessoa, porque a autocrítica é uma mostra de compromisso com o pensamento reflexivo e rigoroso (em oposição ao dogmatismo e à crítica cega), e a autocrítica pública é uma mostra de honestidade política. Visitem o blog da UEI e leiam o texto mais antigo, e vocês verão parte dessa autocrítica.

– a UEI é o grupo mais independente do movimento estudantil. Independente não só de partidos, como de quaisquer grupos. Essa escolha pela independência significa que a UEI não aceita qualquer fonte externa de financiamento (os outros grupos costumam ser financiados por sindicatos). Na dúvida sobre se isso poderia condicionar a atuação do grupo, a UEI opta por preservar sua independência. Além disso, é independente também porque não é refém de qualquer espécie de direcionamento ideológico – a não ser a ideologia do compromisso com a democracia -, porque não é refém de qualquer rótulo.

Eu entrei na UEI porque é essa a espécie de movimento estudantil que creio que pode construir uma Universidade do Século XXI e é essa espécie de política que traduz os anseios daqueles que, como eu, não têm uma “meta-utopia política geral” a não ser a da democracia, mas que nem por isso deixam de querer agir politicamente, entendendo a política como meio de transformar a sociedade.

João Telésforo

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